segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Vida e Morte: Momentos Intrigantes na Construção Humana [AGDL]


“Masturbação, Café e Teologia”, apresenta a intervenção de dois criativos artistas diante de dois fatos cruciais na construção humana: a vida e a morte. Impactados trazem beleza, luz para esse momento de-cisão. Apresento o Teólogo brasileiro João Batista Libânio e o Fotógrafo francês Olivier Valsecchi.
Libânio num surto existencial sussurra algo a respeito da temática. “Cabisbaixo” mergulha de peito aberto no coração do mundo explicitando o que há de mais essencial nesse caminhar querigmático: a espiritualidade.
Olivier Valsecchi integra cosmogonia e antropogonia. Vai ao gênese da criação para revelar o quanto a vida e a morte (protologia e escatologia) estão intricadas com o todo. O movimento dos corpos parece descrever o movimento do relato da criação na literatura bíblica. Visibilizado (Sacramento) na potencialidade da autonomia humana fente ao uso de sua liberdade, onde o homem e a mulher podem construir-se em alteridade, em alteridade cósmica. Nessa atitude ambos podem descansar (como no sétimo dia da criação), podem se espantar, se fascinar (com algo Maior, que os transcendem), podem se alegrar (numa espécie de dança litúrgica, ritual), podem se abrir, se entregrar-integrar com o Mistério (como um grande “sim!”, como um grande abraço na vida e na morte, em paz com ambas).
Leonardo Boff em seus encontros com o Cristo Cósmico se esbarra com essa realidade intrigante: todos nós em nossa constituição estamos co-irmanados como partes integradas com o todo. Todos somos irmãos e irmãs: as partículas elementares, os quarks, as pedras, as lesmas, os animais, os humanos, as estrelas, as galáxias. Como seres vivos, possuímos o mesmo código genético dos outros seres vivos, das amebas, dos dinossauros, do tubarão, do mico-leão-dourado, do australopiteco, do homo sapiens-demens. Dessa realidade viemos e dessa mesma realidade retornaremos.

  • Segue a intervenção de Libânio e de Olivier Valsecchi:

O fato da morte persegue as religiões desde o início. Que acontece com esse ser humano que, vivo, de repente, cessa de existir? De onde ele veio e para onde ele vai? A vida lança ponte entre dois lados obscuros do existir humano: a origem e o fim. Ambos escapam à experiência pessoal. Ninguém vivencia a própria morte. Ela acontece sempre em outro. Então a religião entra para dar resposta a essa angustiante interrogação existencial.

 
  
Várias concepções de morte atravessaram a experiência religiosa de Israel. O patriarca se alegrava ao saber que filhos e netos lhe davam continuidade. Morriam na certeza de que eles continuavam nos descendentes.
Aos poucos, Israel avançou e imaginou um reino escuro, o sheol, onde os mortos bons e maus dormiam. Habitavam esse reino da morte sem mais. Em seguida, perceberam que lá havia lugar diferenciado para os justos e injustos. E em momento de arrojo de fé, acreditaram no poder de Javé de arrancar os mortos dessa morada obscura, devolvendo-lhes a vida no final dos tempos. A mãe dos Macabeus proclamava a fé na ressurreição final.

 
 
 

A fé judaica alcança a plenitude com a experiência que os discípulos de Jesus fizeram de vê-lo morto e vivo. Firmou-se então no mundo cristão a crença na ressurreição dos mortos, não simplesmente como fato a esperar no final dos tempos, mas já acontecido em Jesus. No século passado, Pio XII define a mesma verdade a respeito de Nossa Senhora. E hoje muitos teólogos falam de ressurreição na hora da morte.
Outras religiões não chegaram até lá. Percebem que as pessoas morrem na imperfeição. E nessa situação não merecem participar de vida plena. Submetem-se a um processo de purificação pela via da reencarnação. Morrem e voltam.

 
 
 
 
  
Distinguem-se da fé cristã nesse ponto crucial. A morte não significa o término definitivo da vida na terra, mas um modo de existir ao qual se sucedem outros pela volta à terra sob outra forma corpórea. O cristão, porém, afirma uma única vida terrena que a morte corta definitivamente para dar início à plenitude de vida para os justos e o silêncio tenebroso para os maus. Sobre a felicidade eterna sabemos de todos os que morreram na fé em Cristo, no amor, na justiça. Dos possíveis condenados, não sabemos de ninguém em particular. Vale a esperança de que todos se salvem.
Mais triste a religião que desconhece totalmente a existência para além da morte, seja pela ressurreição, seja encarnação. Tal religião só serve para essa vida. A morte significa o caminho para o nada, para a matéria, para o desfazimento do corpo em pó. 

 
 
 

Do pó viemos e ao pó retornaremos, sem nenhuma perspectiva de um Deus que nos dê a vida eterna. Depois da morte, o absoluto silêncio. A morte significa o fim último e definitivo de tudo. A religião perde o sentido profundo de re-ligar-nos com o divino para ser simples consolo nessa existência. E nada mais. Alegremo-nos de ter recebido na fé cristã a maravilha da ressurreição de todo o nosso ser para dentro do amor eterno de Deus.

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