sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Cachaça de Gengibre [AGDL]

Exclusividade do Bar da Cachaça 
(Av. Mém de Sá 110b, Lapa)

Para uma garrafa “PET”

·        1 garrafa de 600 ml de cachaça
·        Meio liquifidicador de gengibre
·        1 copo d’água
  Modo de preparar

·        Bater tudo no liquidificador
·        Coar numa peneira fina ou em um pano de prato
·        Acrescentar depois açúcar e leite condensado (um copo)

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Stellar [AGDL]




“Masturbação, Café e Teologia” apresenta o fotógrafo texano Ignacio Torres 1 que tem como projeto atual se aprofundar em temáticas que trabalham com a identidade contemporânea da juventude. Utiliza a fotografia, os gifs animados e os vídeos para dar concretude ao que está em sua cabeça, em suas intuições e observações pessoais.
No projeto “Stellar” (2011), ele integra à fotografia animada uma espécie de poeira cósmica que unifica o humano com o cosmos. Na realidade esse projeto surgiu a partir de seu contato com uma teoria que afirma que os seres humanos e os seres criados são feitos da mesma matéria cósmica. 
Penso que esse projeto pode trazer questões, intuições profundas para os nossos dias. Não poderia ser uma crítica frente à crise ecológica, onde muitos de nós (incluindo os jovens), não nos empenhamos eticamente em cuidar, em preservar a si mesmo e o outro (incluindo os cosmos, a natureza)?
Nesse sentido podemos ter “duas” posturas relacionadas a essa realidade:
·        Podemos nos justificar numa compreensão onde temos o direito de “dominar”, de ser “senhor e dono” da natureza, e como tal, temos o poder de sugar, de consumir o máximo possível desse bem comum;
·        Podemos nos justificar numa compreensão onde somos um único organismo ajustado com a natureza, e como tal, somos mais responsáveis, éticos em relação a esse bem esgostável, comum a todos e todas.
Me parece que o que Ignacio traz a tona é que temos a mesma origem comum: o pó presente na Terra e em todo o cosmos. Finalizo com uma reflexão teológica de L. Boff:
“Se partirmos da Bíblia para legitimar a dominação da Terra, temos que voltar a ela para aprender a respeitá-la e cuidá-la. A Terra gerou a todos. Deus ordenou: “Que a Terra produza seres vivos, segundo sua espécie” (Gn 1,24). Ela, portanto, não é inerte, é geradora e é mãe. Depois do tsunami do dilúvio, Deus refez a aliança “com a nossa descendência e com todos os seres vivos” (Gn 9,10). Sem eles, somos uma família desfalcada 2 ”.
    











Cosmos e Damião

Composição: Galvão - Moraes Moreira

Qui qui qui qui não é qui qui qui
Que bom é bom demais pra ser aqui.
Onde um faz hum, e outro hum hum. Mas que bom, todos hum!
Como um dia, não ria.
Sorria como nós!
Porque vós tem nome doce, e um som de voz.
Qui qui qui qui não é qui qui qui
Que bom é bom demais pra ser aqui.
Onde um faz hum, e outro hum hum. Mas que bom, todos hum!
Como um dia, não ria.
Sorria como nós!
Porque vós tem nome doce, e um som de voz...
Mais um! Mais um Bahia, mais um. Mais um buchinha, todos um como um dia.
Mais um! Mais um Bahia, mais um. Mais um buchinha, todos um como um dia.
Um dia como esse, de Cosmos e Damião. Você pode até dançar com Damião.
Mas quem contrariar, a lei do Cosmos. Não vai pagar, já paga ao contrariar.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Saquinho de jornal - aprenda a fazer

Liberation Theology and Marx

Sangue Latino + Num meio-dia de fim de Primavera

Direção: Felipe Nepomuceno
Dir. de Fotografia: Breno Cunha
© Urca filmes
Petrópolis, 2010 


Leonardo Boff

+
Alberto Caeiro

Num meio-dia de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se longe.
Tinha fugido do céu.


Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.


O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.


Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!


Um dia que Deus estava a dormir
E o Espirito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez com que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.


Depois fugiu para o sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.


Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E porque toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando agente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.


Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."

E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É a minha quotidiana vida de poeta,
E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.


Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Serie Peruanos siglo XX - Gustavo Gutiérrez

La alternativa de Jesús

Afinal quem foi Jesus de Nazaré?



Certa vez dizia um professor de Liturgia na PUC: "Por que muitos de nós preferimos roer ossos, ao invés de comermos uma boa picanha?"; Pergunto eu: "Por que nos abstemos de nos aprofundar em assuntos teológicos e ousamos a falar sobre, mas com uma carga pejorativa e preconceituosa, sem mesmo nos atentarmos sobre?". Acredito que esse vídeo seja um petisco de quem foi essa figura tão controversa na história. Bom apetite!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Juventudes: outros olhares sobre a diversidade


A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), realizou uma pesquisa inédita com dez mil brasileiros de 15 a 29 anos, que resultou no livro: "Juventudes: outros olhares sobre a diversidade", da coleção Educação para Todos, do Ministério da Educação (disponível no link abaixo em formato Pdf).
É a primeira tese de fôlego no país sobre esta faixa etária, que corresponde a 51 milhões de pessoas e só começou a ser estudada há dez anos. O trabalho traz dados surpreendentes – para os mais velhos – sobre a geração que comandará o Brasil daqui a 20 anos.

Para os Frutos do Brasil

Frutos do Brasil - Juventude em Debate

Documentário dirigido pela Jornalista-Poetisa-Cidadã Neide Duarte e produzido pela Aracati - Agência de Mobilização Social conta a história de 8 experiências de mobilização juvenil. A proposta é que estes casos, contados através deste documentário, possa inspirar tantas outras iniciativas de jovens pelo país.

http://video.google.com/videoplay?docid=-1527449646941521619
http://frutosdobrasil.ning.com/

Educar

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Oração ao Deus desconhecido

Apresentação e tradução: Leonardo Boff

Muitos só conhecem de Nietzsche a frase “Deus está morto”. Não se trata do Deus vivo que é imortal. Mas do Deus da metafísica, das representações religiosas e culturais, feitas apenas para acalmar as pessoas e impedir que se confrontem com os desafios da condição humana. Esse Deus é somente uma representação e uma imagem. É bom que morra para liberar o Deus vivo. Mas não devemos confundir imagem de Deus com Deus como realidade essencial. 

Nietzsche estudou teologia. Eu pude dar uma palestra na Universidade de Basel na sala em que ele dava aulas, quando fui professor visitante em 1998 lá. Essa oração que aqui se publica é desconhecida por muitos, até por estudiosos de filosofia. 

Oração ao Deus desconhecido

Antes de prosseguir no meu caminho
E lançar o meu olhar para frente
Uma vez mais elevo, só, minhas mãos a Ti,
Na direção de quem eu fujo.
A Ti, das profundezas do meu coração,
Tenho dedicado altares festivos,
Para que em cada momento
Tua voz me possa chamar.

Sobre esses altares está gravada em fogo
Esta palavra: “ao Deus desconhecido”
Eu sou teu, embora até o presente
Me tenha associado aos sacrílegos.
Eu sou teu, não obstante os laços
Me puxarem para o abismo.
Mesmo querendo fugir
Sinto-me forçado a servi-Te.

Eu quero Te conhecer, ó Desconhecido!
Tu que me penetras a alma
E qual turbilhão invades minha vida.
Tu, o Incompreensível, meu Semelhante.
Quero Te conhecer e a Ti servir.

Fly

Composição: Nick Drake

 

Please give me a second grace
Please give me a second face
I’ve fallen far down the first time around
Now I just sit on the ground in your way

Now if it’s time for recompense for what’s done
Come, come sit down on the fence in the sun
And the clouds will roll by
And we’ll never deny
It’s really too hard
For to fly

Please tell me your second name
Please play me your second game
I’ve fallen so far for the people you are
I just need your star for a day

So come, come ride in my street-car by the bay
For now I must know how fine you are in your way
And the sea sure as I
But she won’t need to cry
For it’s really too hard
For to fly

Diário de Bordo [AGDL]


A princípio fiz a primeira etapa da oficina: Introdução à Estética do Oprimido (15, 16 e 17 de abril); A Estética do Oprimido (06, 07 e 08 de maio), com um intuito muito específico: ter informações necessárias para formular uma Pesquisa Científica (PIBIC/Teologia/PUC, RJ), onde a práxis político - libertadora do Teatro do Oprimido me auxiliará para fazer conexões com o Projeto Marvin. Na realidade o meu projeto científico irá tratar sobre a religião e o horizonte utópico de jovens da Baixada Fluminense (Belford Roxo, RJ).
O que eu pude perceber nesse primeiro momento foi que o Teatro do Oprimido inverte uma ordem lógica, que visa primeiro à elaboração teórica, para essa expressão de arte é através da experiência que tudo se inicia. De cara fui impactado com essa metodologia, principalmente por eu já ter lido algo de Augusto Boal e vê-lo não apenas como diretor de teatro, mas como um grande pensador, filósofo da arte.
São nas ações da vida (de opressões) que seu método se inspira. Eticamente nos desnudamos em solidariedade, apresentando ao grupo nossas opressões que posteriormente são encenadas. Há um momento em que o oprimido e o opressor entram em crise, após o fracasso do oprimido o curinga estimula a platéia para entrar em cena. O espectador, ou melhor, o "espect-ator" entra em cena e literalmente se veste com a roupa ou com alguma peça do oprimido, isto é, o "espect-ator", encarna o oprimido  criando novas alternativas para transformar aquela realidade de opressão.
Percebi que no nosso cotidiano sofremos e produzimos muitas opressões e sai com a certeza de que há no meu interior muita violência, muita opressão. Meus gestos, minhas expressões concretizaram guerra, morte, violência. Também pude perceber que em muitas ações do meu dia-a-dia, eu sou o agente da opressão.


 

O que ficou de mais importante foi à vontade, o desejo de ser artista, de ser ator. Boal diz que “ser artista é ser humano”. Sai com o desejo de ser mais humano, principalmente no que diz respeito aos meus direitos e deveres.
Reviver essa experiência, através dessas fotos é mágico! Da vontade de entender mais, de viver mais essa utopia, a de sermos realmente artistas (artistas- cidadãos). Somos todos artistas (Sacerdócio Universal Artístico articulado com uma Diaconia Universal Artística), não tem como dizer o contrário vendo essas fotos.
Somos a nova geração dessa utopia que une nações, que une diferenças, que une irmãos. Que a semente lançada por Boal germine sempre e sempre em nossos corações, em nossas ações, que a cada dia venhamos “desmecanizar” os nossos sentidos em prol de algo maior, que nos trancende. Não é isso também o Reino de Deus, descrito num antigo livro?


Uma palavra que poderia sintetizar a oficina: A Imagem na Estética do Oprimido (08, 09 3 10 de julho), seria a palavra: “Diversidade”.  Aqui no CTO a diversidade tem o seu lugar, daí as máximas: "o que não é proibido é permitido"; "Para essas coisas não há lei”. O maravilhoso é que nessa diversidade fluorescente tudo pode e o que vale e a nossa força criativa.
Digo que há “unidade na pluralidade” – parafraseando o mestre Garcia Rúbio. Há a pluralidade, mas há também algo que é muito nosso, que é muito brasileiro, isto é, a estética do oprimido. Mas que outros povos, tribos e nações também se orgulham.
No Teatro do Oprimido além de encontrarmo-nos como artistas, vejo que há um encontrar-se com a nossa brasilidade, com o nosso passado, com a nossa ancestralidade tão mixada. Repito é muito nossa, mas também é universal (é uma estética que valoriza e integra o ser humano).


Valorizo a Estética do Oprimido, assim como valorizo a Semana de 22, a Tropicália, a Pedagogia do Oprimido, o Cinema Novo, a Teologia da Libertação, o Manguebeat etc.
Nessa última oficina o que deu a tonalidade da festa foi sem dúvida o hibridismo cultural em seus variados matizes. Nos relacionamos com os artistas-cidadãos da Argentina, da Dinamarca, da República Checa, da Bolívia, da Inglaterra, dos EUA, da Espanha, do México; do Brasil tivemos artistas-cidadãos, de Curitiba, de Recife, de Minas Gerais, de São Paulo, do Rio de Janeiro, enfim uma geléia geral, uma “zona”.
Dentro de tanta diversidade fomos “limitados” à imagem, para nos expressar. Vimos o quanto é difícil e o quanto somos bombardeados por esse sentido. Num almoço com o grupo experimentamos algo, ocorreu com a Claudete (curinga). Quando estávamos na mesa tinha uma carreira de latinhas de refrigerante de cor vermelho e branco, simplesmente ela pediu um suco de laranja. E contou uma experiência de quando o filho dela era pequeno, mal sabia falar, ele viu um outdoor com o mesmo rótulo desse refrigerante e pronunciou o nome dele.
 

Nessa etapa das oficinas, registro que através da oficina: Teatro-Jornal: Uma Resposta Estética a Invasão do Cérebro (16, 17 e 18 de setembro), muitas questões foram levantadas, no que diz respeito de fazermos uma leitura crítica de nossas vidas. Fomos provocados em relação ao nosso lugar no mundo. Fizemos leituras: simples, paralelas, históricas, descontextualizadas de duas notícias. Uma abordava a temática homofobia, a notícia se encontrava na parte de entretenimento de um jornal impresso carioca. A outra notícia abordava a problemática do crack, o jornal retratava a justificativa da empresa de transporte SuperVia, em relação aos atrasos por causa dos viciados que "insistem" em ficar nas linhas de trem de Manguinhos no Rio de Janeiro.
Em que uma leitura crítica, uma postura ética, solidária diante dos fatos descritos pela multimídia, pode ser útil para a construção de nosso mundo atual?

É essencial que ao lermos os fatos atuais não tenhamos uma postura anacrônica: política, sociológica, psicológica, teológica etc. Leituras anacrônicas, individualistas empobrecem, enfraquecem o discurso, as possibilidades de políticas públicas justas. Nesse sentido percebemos que “poderosos” tentam através da força da multimídia absolutizar ideologias, “mistificam-na” com um peso de “verdade absoluta”, restringindo a confecção e propagação de notícias a um “povo eleito”. Povo eleito que tem como pretensão colonizar-nos sensorialmente, daí a crítica de Augusto Boal, que enfatiza que a 3ª guerra mundial passará pelo domínio de nossos sentidos.
“Os poderosos” subestimam os oprimidos, que em sua constituição natural também são dotados de razão, de liberdade e de força criativa. É urgente e necessário fazermos uma leitura crítica dos fatos e confecção multimidiática na perspectiva do/para e sobre o oprimido e pelas mãos do próprio oprimido, para termos o direito e o dever de melhor analisarmos os acontecimentos.
Podemos por analogia aproximar o ser artista, ou "hermeneuta", o ser cidadão-artista, ou "hermeneuta-cidadão" de Boal com os profetas do AT, que em contato com a história, com o outro e com o Mistério fizeram uma interpretação na perspectiva do oprimido, revelando utopias humanas e divinas. 

 
Afirma Boal:
“O artista mostra o escondido, não o óbvio, e nos faz entender através dos sentidos – torna consciente o que estava em nós impregnado. No tempo, surpreende o instante; no espaço, o invisível. No teatro – a mais complexa de todas as artes, porque a todas inclui com suas complexidades –, os artistas (cidadãos) devem fazer-nos ver o que temos diante do nariz e não vemos, entender o que é claro e nos aparece obscuro [...] Nunca vemos tudo que está diante de nossos olhos, mas podemos ver o que não existe [...]”.
Se lermos os fatos numa perspectiva ingênua, de adivinhação, “apocalíptica”, pessimista, trágica em relação ao futuro, sem fazermos uma leitura crítica que contemple o passado e o presente na perspectiva do oprimido, faremos uma análise estrutural de conjuntura mágica, imatura, consequentemente teremos uma perspectiva de futuro esvaziada do comprometimento com o outro (oprimido). 


Vivemos num tempo de avanços na área da tecnologia, da economia, da sociologia, da psicologia, através de uma reflexão histórica mais aprofundada, não deveríamos repetir paradigmas passados (anacronismo). Devemos fazer uma releitura- atualizada do passado, refletindo, aplicando para os nossos dias todo um legado libertador, frente ao ser humano e ao mundo no qual estamos inseridos. Não devemos nos fechar num programa unívoco, em máximas verdadeiras pré- estabelecidas e em normas sociais reducionistas, devido à própria contingência histórica. 

 
Nessa oficina refletimos numa mesa de bar sobre a tentação, a possibilidade de cairmos numa visão maniqueísta de interpretação dos fatos noticiados, onde o bem e o mal podem criar blocos rígidos, podem criar dificuldades para um diálogo-integração, não percebendo que a vida também possui nuances e ambigüidades. É urgente não negarmos a necessidade de denunciarmos os “poderosos”, como os profetas o fizeram e é necessário um anúncio libertador atualizado, que integre também os oprimidos em ações éticas continuadas, onde todos e todas passam participar da construção de um mesmo mundo.