terça-feira, 27 de março de 2012

A Utopia de Dione

"Muitas vezes nos sentimos crianças desamparadas, pedindo colo, afago, sorrisos e beijos. Desejando ser amada, olhada, ao menos percebida. E nos damos conta de que crescemos, nos tornamos adultos ocupados, não-solícitos, estressados, murados e desconfiados.
A criança se foi, a inocência se foi e muitas vezes o amor também se foi. Mas olhemos agora para nossos filhos, sobrinhos, enteados. Crianças lindas que brincam do amanhecer até o adormecer, se vestem do que querem ser, se imaginam no mundo do jeito que querem.

Não minha gente a criança não terminou!



Não somos seres cristalizados em nossas atitudes e palavras. Somos transformações constantes, e porque não, entre um despertar de mais um dia e outro dia, possamos dar lugar a esta criança que ainda abriga dentro de nós o melhor de nós mesmos.
Sejamos mais leves, mais sorridentes e menos preocupados. Dormir e acordar com os problemas cotidianos não nos fará viver bem, mas sim vivermos à margem do sol, do mar, das árvores, dos pássaros, do outro e de nós mesmos" .

Dione Prado 

segunda-feira, 26 de março de 2012

De coração, para coração!


"Um dia Deus teve um sonho...
Sonhou com alguém especial...
Alguém que pela simples presença faz a diferença em qualquer lugar...
Alguém único em sua maneira de amar e ser amado.
Alguém amigo que tem amigos verdadeiramente leais.
Alguém que tem determinação, garra e coragem para alcançar seus objetivos.
Alguém que veio ao mundo para “ser alguém”...
Mas Deus não se contentou em apenas sonhar, deu vida ao sonho. 
Então fez você!".

 Natália Keila

domingo, 25 de março de 2012

O Pato ou " Patacoada teologal: a necessidade da Fides Quae! + Fides Qua!"

Composição: Vinícius de Moraes

Qüén! Qüen! Qüén! Qüen!
Qüén! Qüen! Qüén! Qüen!
Qüén! Qüen! Qüén! Qüen!
Qüén! Qüen! Qüén! Qüen!
Lá vem o Pato
Pata aqui, pata acolá
Lá vem o Pato
Para ver o que é que há...(2x)
O Pato pateta
Pintou o caneco
Surrou a galinha
Bateu no marreco
Pulou do poleiro
No pé do cavalo
Levou um coice
Criou um galo...
Comeu um pedaço
De genipapo
Ficou engasgado
Com dor no papo
Caiu no poço
Quebrou a tigela
Tantas fez o moço
Que foi prá panela...
Quá! Quá! Quá! Quá Quá!
Quá! Quá! Quá! Quá Quá!
Quá! Quá! Quá! Quá Quá!
Lá vem o Pato
Pata aqui, pata acolá
Lá vem o Pato
Para ver o que é que há...(2x)
O Pato pateta
Pintou o caneco
Surrou a galinha
Bateu no marreco
Pulou do poleiro
No pé do cavalo
Levou um coice
Criou um galo...
Comeu um pedaço
De genipapo
Ficou engasgado
Com dor no papo
Caiu no poço
Quebrou a tigela
Tantas fez o moço
Que foi prá panela...
Caiu no poço
Quebrou a tigela
Tantas fez o moço
Que foi prá panela...

Soneto em Fuga 2 (1-3)


segunda-feira, 19 de março de 2012

Moralina Funk

Por: Márcia Tiburi

A nova moral da contemporânea Indústria Cultural da Pornografia

A afirmação adorniana de que após Auschwitz toda cultura é lixo não perde sua atualidade. Se de um lado, a frase implica que a cultura não vale mais nada, de outro quer dizer que “lixo” é a melhor categoria explicativa da cultura enquanto “aquilo que se rejeita”. Mas vem significar também que cultura é a experiência do que sobra para os indivíduos levando em conta as condições socio-econômicas e políticas marcada pela divisão de classes, de trabalho, de sexos, da própria educação dirigida de maneira diferente a pobres e ricos.
A partir da elevação do lixo à categoria de análise, podemos com tranquilidade ecológica (aquela que faz a separação dos descartáveis por categorias) partir para uma brevíssima investigação do que se há de nomear como “moralina funk”, a performance corporal-sonora  que se apresenta como o ópio do povo de nosso tempo. Muito já se escreveu sobre o fenômeno que merece atenção filosófica urgente desde que tornou-se a “cultura” que resta para uma grande camada da população de classes menos favorecidas econômica e politicamente. Muitos afirmam que “o funk carioca também é cultura”, mas pouco comentam sobre seu sentido enquanto capital cultural justamente porque seu único capital implica uma contradição: pobreza material e espiritual. Ou seja, capital nenhum. Na ausência deste capital sobressai o que resta aos marginalizados. Eles descobriram o valor daquilo mesmo que lhes resta. Eis o capital sexual.
A performance da moralina funk depende deste capital sexual. Explorado ele é a única mercadoria da consciência e do corpo coisificado. Seu paradoxo é parecer libertário quando, na verdade, é a nova moral.

Pornografia moralizante

Produto dos mais interessantes da sempre moralizante Indústria Cultural da Pornografia, a esperteza do funk carioca é transformar em regra aquilo que foi, de modo irretocável, chamado por seus adeptos pela categoria do “proibidão”. A versão da coisa que não é para todo mundo. A fórmula do funk é tão imbatível quanto a lei do estupro das histórias do Marquês de Sade. É o barulho como poder, ou melhor, violência. Nenhum ouvido escapa da moralina funk na forma de disfarçadas ladainhas em que as mesmas velhas “verdades” sexistas expoem-se, como não poderia deixar de ser, pornograficamente. Mandamento sagrado da performance é que ninguém ouse imputar marasmo ao tão cultuado quanto profanado Deus Sexo.
Não existe uso autorizado da pornografia, pois a regra de sua moral é a clandestinidade. Daí a função do proibidão na economia política do funk. A história da pornografia oscila entre ser o outro lado da lei e ser apenas outra lei. Foi isso o que fez seu sucesso político em sociedades autoritárias contra o princípio publicitário que lhe deu origem. É o que está dado em sua letra: porno (prostituta) e grafia (escrita) define, na origem, a mulher que pode ser vendida. E que, para ser vendida, precisa ser exposta. A pornografia é, assim, uma espécie de exposição gráfica da mercadoria humana. Não é errado dizer que a lógica que transforma tudo em mercadoria tem em seu cerne na “prostitutabilidade” de todas as coisas. Nada mais simples de entender em um mundo de pessoas confundidas com coisas.
Que a pornografia esteja ao alcance dos olhos, dos ouvidos, de todos os sentidos, exposta em todos os lugares, significa apenas que a regra do ocultamento foi transgredida. Mas implica também sua efetivação como publicidade universal. Isso explica porque ela não choca mais. Na performance do funk carioca ela é altamente aceita em escala social. Seja pela pulsão, seja pela acomodação, se o imoral torna-se suportável é porque ele tomou o lugar da moral. É a nova moral.
A pornografia de nossos dias é tão bárbara quanto a romana pornocracia com a diferença que não temos mais nada que se possa chamar de política em um mundo comandado por regras meramente econômicas. Daí que todo funkeiro ou seu empresário saibam que o seu negócio é bom pra todo mundo.

Este artigo saiu na Revista Cult no final do ano passado.