segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Todo não cristão é cristão anônimo? [AGDL]


Diante do pluralismo religioso e areligioso, vemos que em ambas as experiências (cristã, ou não cristã), ocorrem radicalismos, fundamentalismos e falta de respeito em relação ao outro. Repressão de um lado (onde há preconceito diante da possibilidade do indivíduo ser cristão livremente) e Triunfalismo de outro (onde se obriga que a nação, o mundo todo seja de Jesus, não havendo outra possibilidade, se for desse Jesus céu, se não inferno).
Rahner corajosamente afirma “Muitos não cristãos confessos são cristãos anônimos”. Frase muito desagradável, indevida realmente, se for mal utilizada ou mal compreendida. Pode parecer “colonizadora” (como numa experiência cristã de alguns séculos envolvendo índios, portugueses, africanos, judeus), fazendo que o outro fosse o que ele não pretendia ser, ou era.
Embora não queiras ser cristão, tu o és de todos os modos, só que anonimamente, sem sabê-lo”. Esse pressuposto poderia da mesma forma ser aplicado na forma negativa, onde todo bom cristão seria, por sua vez, um “ateu anônimo”. Mas não foi essa a teologia produzida pelo teólogo alemão K. Rahner.
Na esteira de Rahner, cristãos ou não cristãos, ateus ou não ateus podem vivenciar valores que trazem sentido a existência humana (que nos identificam), onde a transcendência social pode ser um projeto radicalmente humano, independendo de sua matriz religiosa ou ateia.
Para ele só há um mundo real e é nele que existe a única humanidade histórica que está destinada a realização, que muitas vezes se dá pela transgressão, para que a mesma se concretize (principalmente na vida dos oprimidos, dos excluídos). Esse chamado divino não é um "flatus vocis", não é uma mera palavra que conforta o ser humano, fazendo-o insensível, apático, pelo contrário, é um chamado que tem como pretensão afetar, abalar a raiz mais profunda de cada ser humano, numa perspectiva aproximada a que movimentou a orientação profunda de Jesus de Nazaré. É nessa orientação que a vida do ser humano pode ganhar sentido, razão e consistência.

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